quinta-feira, 5 de março de 2015

Uma questão de privacidade

Até onde estaria disposto a ser vigiado por entidades governamentais para sua própria segurança? Aludir à "linha que separa" é tentador, mas remete para confusões Às quais não queremos dar, aqui, lugar.
Aceitar que a nossa rua seja vigiada por câmaras de segurança ou por policiamento dar-nos-à, com certeza, um estado de segurança e a garantia de não-invasão do nosso espaço familiar e e social por malfeitores. No entanto, todos os nossos passos, bem como os de familiares e amigos que se deslocam ao nosso domicílio seriam absolutamente controlados. O facto de o meu amigo Joaquim vir lanchar a minha casa não é um assunto público mas vai, ainda assim, ser alvo de desconfiança e verificação.
Mas a vigilância pode ir muito para além da sua dimensão presencial. Hoje em dia, assistimos com regularidade a escândalos que envolvem escutas telefónicas. Muito embora eu não tenha nada a esconder, não seria confortável para mim que houvesse um agente da autoridade que, com a intenção de detectar comportamentos irregulares, me ouvisse todas as conversas telefónicas. Até porque todos nós temos segredos - mais ou menos "importantes" - que não é suposto serem escrutinados. A minha vida pessoal e profissional é um não-assunto, seguramente.
Fazendo, desde já, a antecipação de uma estreia cinematográfica, cuja direcção compete ao sobejamente conhecido actor George Clooney, "Hack Attack" é um filme que nos leva aos meandros dos abusos da vigilância das entidades públicas. Refira-se que se trata de um filme baseado em factos reais e recentes, e a investigação realizada resultou na condenação de alguns prevaricadores. Surge, então, uma outra questão: onde se separa (sem linha!) a vida privada da vida pública das figuras mais mediáticas da sociedade? E, pior do que isso, não terão essas pessoas, nas suas vidas, figuras "não-públicas"? Porque teria eu, por exemplo, de aparecer numa foto de uma qualquer revista cor-de-rosa apenas por estar acompanhado do meu amigo Cristiano Ronaldo ?1

Penso que o importante é que cada uma de nós reflita sobre até que ponto é que se quer "protegido" sem ser "invadido", com a noção de que não existe um menú à la carte. Eu confesso que, feito e relido este texto, cheguei a um beco sem saída, pois não consigo traçar um limite que seja digno na separação destas duas realidades. O equilíbrio seria o ideal mas parece, de facto, algo impossível nos dias que correm.






Nuno Santos


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