quinta-feira, 28 de maio de 2015

Somos todos jornalistas



Uns dias depois dos festejos do Benfica no Marquês de Pombal, o jornal da noite abriu com a notícia de que um dos agentes da PSP arremessou de novo uma garrafa para os vândalos que haviam iniciado uma guerra de garrafas contra os agentes policiais. Neste seguimento, lá voltaram as imagens do “agente Silva” a agredir à bastonada um adepto do Benfica em frente à família, imagens repetidas vezes sem conta, até à exaustão. O indivíduo agredido transformou-se, desde logo, e herói nacional e levantou-se um grandioso movimento de contestação social que condenou vivamente aquilo que se considerou ser um ato de abuso de poder e de excessiva violência policial.

Foram já abertos rigorosos inquéritos contra os episódios da dita violência policial e a imprensa compete para ver quem se mostra mais civicamente exaltado e revoltado com o único fim de ganhar audiências. Desde esse domingo que a imprensa nãos faz outra coisa senão estar atenta ao desenvolvimento das opiniões manifestadas nas redes sociais e seguir atrás delas. Os próprios editores de imprensa vivem “no terror” de não deixar escapar qualquer movimento viral divulgados nas redes sociais.

Estamos, portanto, perante uma inversão dos papéis do jornalista e do público: não é o jornalista que determina o que é a notícia, é o público. O público que passa os dias ocupado nos Facebooks e afins a debitar opiniões sem qualquer informação ou reflexão e, como refere Miguel de Sousa Tavares numa das suas crónicas para o jornal Expresso, «com a mesma irresponsabilidade com que o povo dos circos romanos gritava a César se era para matar ou para perdoar».


Sendo assim, como é evidente, perde-se a noção daquilo que deve ser a função essencial do jornalista enquanto um intermediário entre a notícia em bruto e a sua explicação para o público e o jornalismo perde a sua razão de ser. Foi o caso concreto dos tristes acidentes em que degenerou a festa benfiquista. Os editores optaram por se concentrar nas opiniões emitidas nas redes sociais e emitiram-se daquilo que realmente interessava: a origem, actuação e formas de violência destes “arruaceiros” e a forma como a polícia deve actuar para os conter e enfrentar, para bem do espectáculo e de todos os outros que querem apenas assistir a um jogo de futebol.





José Pedro Pinto, 4

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