Uns dias depois dos
festejos do Benfica no Marquês de Pombal, o jornal da noite abriu com a notícia
de que um dos agentes da PSP arremessou de novo uma garrafa para os vândalos
que haviam iniciado uma guerra de garrafas contra os agentes policiais. Neste
seguimento, lá voltaram as imagens do “agente Silva” a agredir à bastonada um
adepto do Benfica em frente à família, imagens repetidas vezes sem conta, até à
exaustão. O indivíduo agredido transformou-se, desde logo, e herói nacional e
levantou-se um grandioso movimento de contestação social que condenou vivamente
aquilo que se considerou ser um ato de abuso de poder e de excessiva violência
policial.
Foram já abertos
rigorosos inquéritos contra os episódios da dita violência policial e a
imprensa compete para ver quem se mostra mais civicamente exaltado e revoltado
com o único fim de ganhar audiências. Desde esse domingo que a imprensa nãos
faz outra coisa senão estar atenta ao desenvolvimento das opiniões manifestadas
nas redes sociais e seguir atrás delas. Os próprios editores de imprensa vivem
“no terror” de não deixar escapar qualquer movimento viral divulgados nas redes
sociais.
Estamos, portanto,
perante uma inversão dos papéis do jornalista e do público: não é o jornalista
que determina o que é a notícia, é o público. O público que passa os dias
ocupado nos Facebooks e afins a debitar opiniões sem qualquer informação ou
reflexão e, como refere Miguel de Sousa Tavares numa das suas crónicas para o
jornal Expresso, «com a mesma irresponsabilidade
com que o povo dos circos romanos gritava a César se era para matar ou para
perdoar».
Sendo assim, como é
evidente, perde-se a noção daquilo que deve ser a função essencial do
jornalista enquanto um intermediário entre a notícia em bruto e a sua
explicação para o público e o jornalismo perde a sua razão de ser. Foi o caso
concreto dos tristes acidentes em que degenerou a festa benfiquista. Os
editores optaram por se concentrar nas opiniões emitidas nas redes sociais e
emitiram-se daquilo que realmente interessava: a origem, actuação e formas de
violência destes “arruaceiros” e a forma como a polícia deve actuar para os
conter e enfrentar, para bem do espectáculo e de todos os outros que querem
apenas assistir a um jogo de futebol.
José Pedro Pinto, 4